Teste de ADN secreto confirma que Julia Wandelt, acusada de perseguir os McCann, não é Madeleine
Um tribunal britânico ficou a saber que um teste de ADN secreto confirmou, de forma conclusiva, que Julia Wandelt — acusada de perseguir a família McCann — não é Madeleine McCann. A revelação foi feita durante testemunho no tribunal, levantando questões profundas sobre os limites da ação policial, da sanidade mental de indivíduos e do sofrimento de uma família que já vive há quase duas décadas num limbo de dor e incerteza.

Julia Wandelt, com 24 anos, foi acusada de uma campanha sistemática de assédio contra Kate e Gerry McCann e os seus filhos adultos, Sean e Amelie — centenas de chamadas, mensagens, cartas e visitas inesperadas entre 2022 e este ano. Segundo o investigador-chefe da Operação Grange, Mark Cranwell, várias pessoas ao longo dos anos afirmaram ser Madeleine McCann; mas o uso do ADN era reservado apenas a casos em que realmente se acreditava que o indivíduo pudesse ser a criança desaparecida.
Cranwell explicou que a decisão de recolher o ADN de Wandelt contrariava o procedimento habitual: temia-se que testar alguém cujo aspeto ou idade já o tornavam improvável pudesse gerar um precedente onde muitas outras pessoas se reclamassem como sendo Madeleine, dificultando ainda mais o processo investigativo e emocional para a família.
Ainda assim, decidira-se proceder à recolha de ADN no momento da detenção, numa ação que Cranwell justificou “na esperança de que ela parasse o comportamento dirigido à família McCann”. A comparação dos perfis foi feita, e o resultado foi categórico: “conclusivamente provou que Julia Wandelt não é Madeleine McCann.”
Durante uma visita prisional, o investigador disse ter comunicado a Wandelt que os resultados não batiam, ao que ela reagiu com dúvida, perguntando: “Queres mesmo encontrar a Madeleine?” Cranwell relatou que respondeu sim, mas revelou que suspeitava ser impossível convencê-la da verdade, mesmo perante evidência científica.
No tribunal ficou ainda descrito o impacto — emocional e psicológico — para a família McCann. As interações com Wandelt e com outra acusada, Karen Spragg, de 61 anos, foram descritas como “assustadoras”, “estranhas” e “perturbadoras”. Os comportamentos incluíam tentativas de recolher o ADN da família de forma clandestina — como vasculhar lixeiras ou recolher talheres usados em restaurantes onde os McCann tinham estado.
Wandelt nega a acusação de stalking. Também Spragg nega envolvimento. O julgamento prossegue.
Este episódio lembra que a linha entre obsessão e crime muitas vezes se cruza com fragilidades mentais, que a investigação exige equilíbrio — entre zelo e cautela — e que famílias como os McCann continuam a viver numa espera impossível, resistindo ao peso de cada falso indício.