Gonçalo Capitão ridiculariza o Chega no Parlamento com humor, ironia e críticas às promessas falhadas
O debate parlamentar de ontem ficou marcado por um momento que fugiu à rotina habitual das trocas políticas. Gonçalo Capitão, deputado do PSD, transformou a sua intervenção num verdadeiro número de ironia e crítica mordaz dirigido ao Chega. Com humor, sarcasmo e uma boa dose de teatralidade, falou de política, exageros e contradições, mas também de respeito e limites — tudo num tom que arrancou gargalhadas e protestos em igual medida.

Capitão começou por ironizar o discurso inflamado de André Ventura e Rui Cristina, dizendo que, com tanto dramatismo, só faltava mesmo cantarem fado. Mas, num golpe de espírito rápido, acrescentou que preferia ouvi-los a cantar algo dos Gipsy Kings — uma alusão subtil às posições controversas do Chega em relação à comunidade cigana, que gerou um burburinho imediato no plenário.
O deputado prosseguiu lembrando as ambições eleitorais do Chega, que passou de prometer trinta câmaras a conquistar apenas três. “É só tirar um zero”, atirou, antes de rematar que o partido parece seguir “a matemática da Festa de Hambúrgueres”, numa referência às celebrações eufóricas que marcaram a noite eleitoral do partido.
A sátira estendeu-se ao estilo e às escolhas mediáticas do Chega. Gonçalo Capitão mencionou, sem rodeios, a candidatura de Íris Ascensão — que tem uma conta na plataforma OnlyFans — como exemplo de um partido que “põe o sistema a nu”, não apenas no sentido figurado. Com humor controlado, disse que o Chega gosta de se apresentar como o partido da ruptura, mas acaba muitas vezes prisioneiro da sua própria encenação.
Durante os protestos da bancada do Chega, o deputado do PSD respondeu com leveza, dizendo para estarem à vontade, porque ele adora “barulho disruptivo” e até foi “membro de uma claque organizada”. O tom provocador contrastou com o ambiente normalmente rígido do Parlamento, mas serviu para sublinhar o ponto central do seu discurso: a política deve ser feita com convicções, não com ruído.
No final, Capitão concluiu que o Chega é uma “sociedade unipessoal”: quando Ventura fala, soa a Godzilla; quando se cala, aparece o Calimero. E terminou com uma frase que ficou a ecoar no hemiciclo: “Se não têm vergonha, ao menos tenham juízo.”
Mais do que um momento de entretenimento, a intervenção de Gonçalo Capitão expôs com humor e inteligência o confronto entre duas formas de fazer política — uma que tenta afirmar-se pela força do ruído, e outra que acredita que a ironia pode ser uma arma eficaz contra o exagero. E, por uns minutos, a Assembleia pareceu lembrar-se de que a política também vive de palavras que, quando bem usadas, sabem rir — e fazer pensar.