A invasão francesa de 1807 e o saque brutal que devastou Lisboa
Em 1807, Portugal vivia dias de incerteza e tensão. Napoleão Bonaparte, no auge do seu poder, decidira que o pequeno reino português pagaria caro por manter a sua fidelidade à Inglaterra. A recusa de D. João, príncipe regente, em aderir ao bloqueio continental decretado pelo imperador francês foi interpretada como uma afronta direta. A resposta veio rapidamente sob a forma de uma invasão militar devastadora, conduzida pelo general Jean-Andoche Junot.

Em novembro desse ano, as tropas francesas atravessaram a fronteira, quase sem resistência. O exército português, desorganizado e desmoralizado, pouco pôde fazer. A corte, temendo o pior, embarcou apressadamente para o Brasil a 29 de novembro, levando consigo o tesouro real, a administração e o futuro do império ultramarino. Lisboa ficou entregue à sua sorte.
Quando Junot entrou na cidade, o que se seguiu foi um pesadelo. A capital portuguesa, já fragilizada pelo pânico e pela fuga da família real, foi entregue ao saque e à violência. As casas de fidalgos e comerciantes foram invadidas, os cofres públicos abertos, os armazéns pilhados. Soldados franceses e até alguns locais aproveitaram o caos para roubar, espancar e humilhar a população. Igrejas foram violadas, conventos depredados, e muitos habitantes ficaram reduzidos à miséria em poucos dias.
Junot instalou-se no Palácio da Bemposta e tentou impor uma aparência de ordem, mas a sua administração foi marcada pela brutalidade e pela arrogância. Ordenou a dissolução do exército português e confiscou bens da nobreza e do clero. O ouro e a prata fundidos em Lisboa seguiam para França, enquanto o povo suportava impostos insuportáveis. A humilhação era total.
Contudo, a repressão não destruiu o orgulho português. Em segredo, começaram a formar-se focos de resistência. O sentimento de revolta cresceu à medida que as notícias de abusos se espalhavam. No ano seguinte, em 1808, o país ergueu-se em armas. Em cidades como Évora, Porto e Coimbra, o povo pegou em foices, paus e velhas espingardas para expulsar os invasores. Era o início das Guerras Peninsulares — um ciclo de sofrimento e coragem que duraria até 1811, mas que também marcaria o renascimento da dignidade nacional.
A invasão de 1807 deixou cicatrizes profundas em Lisboa e no espírito português. Mais do que um simples episódio militar, foi o momento em que o país se viu reduzido à sua essência: um povo que, mesmo subjugado, recusou aceitar o destino imposto por potências estrangeiras. Da devastação ergueu-se a resistência, e do saque nasceu uma nova consciência patriótica. O que os franceses tentaram destruir com ferro e fogo acabou por fortalecer a alma de Portugal.